sábado, 21 de novembro de 2009

22 de novembro de 2009 - Do possuir


Fui consumido pela lucidez da tua cachaça!

Sávio

Contra o possuir - Kafka


Não existe nenhum possuir, somente um ser, somente um ser exigente até o último alento, até à asfixia.

Franz Kafka

domingo, 15 de novembro de 2009

15 de novembro de 2009 - Sobre princípios (revisitado)


Ao coração a honra, o peito aberto, despoluído das complicações que vêm da culpa, da piedade desnecessária, da vergonha. Inimigos vorazes que sem que se veja transformam tudo em coisa desfigurada, e desgastam os sentimentos, aos poucos a vida. É lutando contra os moinhos que Dom Quixote antes de olhar a lama viu a glória, que sem dar-lhe sujeira corrosiva, deu-lhe a sujeira provinda do empenho.

Cyrano nos ajuda nessa compreensão a seguir...

Sávio

Levado pelo coração - Edmond Rostand


“LE BRET: Fique sozinho se quiser! Mas sem brigar com todo mundo! Como diabos você concebeu essa idéia maluca de fazer inimigos a cada momento?

CYRANO: Foi vendo como você faz os seus amigos - e como os trata com afetação, sorrindo de orelha a orelha! Eu passo alegremente, embora sem saudações, e grito - Quê! Outro inimigo?

LE BRET: Loucura!

CYRANO: Bem, que fazer se é meu vício? O que me agrada é desagradar - odeio amar os homens! Ah, meu amigo, acredite em mim, eu marcho melhor em meio ao fogo - cruzado dos olhares inimigos! Que graça existe nas roupas apertadas, no amargor da inveja ou nas besteiras de um poltrão? - a enervante amizade que o envolve é como um colarinho italiano largo flutuando ao redor de seu pescoço, como fazem as mulheres; pode - se levar bem a vida assim, mas será menos orgulhosa a carruagem! A testa, livre de dependência ou coerção, franze aqui, ali, em toda parte. Mas eu, abraçando o ódio que ela empresta - proibindo com rigor as rugas, a dureza da gola é que mantém a cabeça rígida; cada inimigo - uma ruga, uma dobra, que adiciona constrangimento e um raio de glória; pois o ódio, como a gola espanhola, prende como um vício, mas empresta
a cada um uma auréola!

LE BRET: Oh! Deixe de lado aquele orgulho de mosqueteiro, de que Fortuna e Glória o esperam!...

CYRANO: Sim, que mais?... Procurar um protetor, encontrar um patrono e, como a rasteira hera, que se agarra à casca da árvore para apoiar - se no tronco, chegar ao topo ficando de joelhos ao invés de usar a força? Não, muito obrigado! Ora! Eu, como todo o resto, dedicar versos aos banqueiros? - bancar o palhaço na balconista esperança de ver, finalmente, um sorriso que não seja de desaprovação nos lábios do benfeitor? Não, muito obrigado! Ora! Aprender a engolir sapos? - Com o esqueleto cansado subir escadas? - Ter uma pele suja e áspera, - aqui, sobre os joelhos? E, como um acrobata, ensinar minhas costas a se curvarem? - Não, muito obrigado! Ou, - cínico e dissimulado - andar com as lebres e caçar com os sabujos; e, língua untada de azeite, para obter o óleo do elogio, louvar o grande homem pelo seu grande nariz? Não, obrigado! Infiltrar-se lentamente em cada dobra - um pequeno grande homem num diminuto círculo de amizades, ou navegar, tendo madrigais por vela, sopradas à barlavento pelos suspiros de velhas damas? Não, muito obrigado! Subornar adoráveis editores para disseminar meus versos fora do país? Muito Obrigado! Ou tentar se elege o Papa das tavernas apoiado por imbecis? Não, muito obrigado! Trabalhar com afinco para ganhar reputação por meio de um soneto ao invés de muitos? Não, muito obrigado! Elogiar torpes incompetentes? Ser aterrorizado por cada jornal sensacionalista? Repetir incessantemente: ‘Oh, tivesse eu a chance de ser notícia no “Mercúrio”!’ Muito Obrigado, não! Tornar-me pálido, medroso, calculista? Preferir uma visita a um verso? Procurar introduções, escrever petições? Não, muito obrigado! E não! E não novamente! Mas - cantar? Sonhar, rir, viver sem causa, solitário, livre, com olhos que olham sempre em frente - sem medo na voz! Levantar o chapéu como você bem entende - pelo que um ‘sim’ ou ‘não’ pode terminar em briga ou em verso! - Trabalhar, sem um único pensamento no lucro ou na fama, para seguir em jornada à lua! Nunca escrever uma linha que não pareça ter saído do fundo do coração. Abraçando a modéstia, diga a alguém: ‘Meu bom amigo, seja feliz com estas flores - frutas - não, versos, mas colha-os não do jardim, mas do teu coração!’ e então, se a glória vier ao acaso, não pague tributo a César nenhum, mas conserve o mérito consigo. Resumindo, despreze os filhos dos parasitas para ser feliz, como fazem o carvalho e o olmo - não para crescer às alturas, talvez, mas para crescer sozinho!”

Edmond Rostand in Cyrano de Bergerac

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

2 de novembro de 2009 - Da decisão

É um canto do Eu!

Sávio

Os argumentos - Vergílio Ferreira


"Não há argumentos que bastem para a segurança de uma adesão. O último argumento somos nós. E esse é que é decisivo."

Vergílio Ferreira