sábado, 6 de fevereiro de 2010

7 de fevereiro de 2010 - da inteligência


Acostumados a enxergar valor antes em algo como esforço responsável que em posições favoráveis, nos esquecemos da estrutura. A habilidade das cabeças boas, como Robert Musil parece ter dito, estarão mais preparadas que qualquer atitude provinda de grande velocidade ou energia.

Da colaboração íntima - Robert Musil


...a solução de uma tarefa intelectual não acontece de modo muito diferente do que quando um cão, levando um bastão na boca, quer passar por uma porta estreita; ele vira a cabeça para a esquerda e a direita, até o bastão entrar, e nós agimos de modo muito parecido, apenas com a diferença de que não tentamos fazer isso de modo inconsciente, mas, pela experiência, já sabemos mais ou menos como proceder. E embora uma cabeça inteligente tenha muito mais habilidade e experiência nos movimentos do que uma cabeça tola, a solução também para ela chega de forma inesperada, acontece de repente, e sentimos com vago espanto que os pensamentos se fizeram por si, em vez de esperarem pelo seu autor. Essa sensação de assombro é o que muita gente chama hoje em dia de intuição, depois de antigamente a chamarem de inspiração, e acreditam dever enxergar nela algo de suprapessoal; mas é apenas algo impessoal, isto é, a afinidade e solidariedade das próprias coisas que se encontram dentro de uma cabeça.

(Robert Musil, in O homem sem qualidades, p.82, 1942)