sábado, 18 de setembro de 2010

Nossos Conflitos - 18 de setembro de 2010


Dos nossos pequenos conflitos, resumimos uma humanidade.

"Em uma guerra não se matam milhares de pessoa. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias."

Cristian Boltonski

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sobre o preconceito da vida fácil - 9 de setembro de 2010

" Se a poesia não surgir tão naturalmente como as folhas de uma árvore, é melhor que não surja mesmo." John Keats

Essa frase de John Keats mostra um preconceito bem comum no nosso tempo, que talvez se estenda por milênios, onde as pessoas acreditam fielmente que existe um caminho fácil para vencer na vida. Elas acreditam que de alguma forma o trabalho é algo do qual não se precisa gostar pra fazer direito, e de fato vivem a vida toda assim, trabalham simplesmente porque precisam. Vejam bem uma coisa, essa concepção é tão absurda, que convence as pessoas a ficarem sempre insatisfeitas, uma insatisfação gratuita distribuída diariamente nas esperanças de milhões de pessoas ao redor do mundo. E é justamente essa concepção que libera o mercado para aqueles que realmente querem fazer algo de destaque, e gostam do que estão fazendo, e exatamente por isso alcançam a vitória, ainda que ela seja algo individual, porque no fundo, em algumas situações, se perde mas se vence!

Tratando da poesia, John Keats demonstra esse preconceito tirando a qualidade do fazer poético, ele acha que a inspiração é algo divino, que vem num dia e a poesia sai bem feita, algo como o dom, uma escolha que não sai do indivíduo, mas nasce com ele vindo de algum lugar obscuro. Isso tira a esperança das pessoas, isso, como expliquei no parágrafo anterior, libera o 'mercado' para os que estão dispostos à batalha corporal da poesia, onde se vai vencendo as dificuldades, palavra por palavra, até que após meses, anos, ou até décadas, termina um trabalho, construído, e se sai vitorioso. Temos um excelente exemplo pra isso, o grande Fernando Pessoa, que sequer publicou em vida a maior parte de sua obra, quem sabe se ele publicaria como está sendo publicado...

O criar, qualquer que seja, é um ato laborioso, ninguém chega a algum lugar de graça, só na loteria, mas a loteria escolhe tão poucos, que contar com ela é lamentável. E mesmo contando com ela, de forma alguma ela vira fonte de renda (a não ser pra alguns políticos que compram seus resultados no Brasil para limpar o dinheiro da corrupção, e assim ganham várias vezes seguidas, porque o dinheiro é muito, e uma vez só não da pra lavar tudo...).

Para a saúde do caminhar, para a saúde da esperança, para a saúde da humanidade em nós, é necessário deixar de lado essa velha crença no dom, é necessário pegar a vida com as duas mãos, sujá-las nisso, olhar em seus olhos, contagiar-se. E assim, palavra por palavra, com rima ou sem rima, abrindo verdades ou não, concluiremos uma poesia maravilhosa, no que quer que seja. Pense a respeito, me diga se me engano, mas a diversão gratuita pra mim é safadeza! É necessário merecê-la, pra si mesmo, ninguém precisa saber disso, e só com esforço, o coração pode abrir-se profundamente à alegria de simplesmente estar vivo.