segunda-feira, 4 de julho de 2011

Aponto, e sei que entenderão - Mario Vargas Llosa


Caros, ler mentes é como seguir vestígios do passar recente de raposas, sabendo de onde vieram, pra onde foram, do que precisam... Nós os homens possíveis somos ansiosos pela glória e ignoramos pequeninos detalhes do homem batuto, detalhes do homem que somos e que há muito silenciou ante o conforto, que sempre conseguiu se manter inda que nas faltas, não para aliviar, mas para piorar, para nos dar preguiça, e nos contentamos com a injustiça diária, soletrando hinos que nos cantam o orgulho dos submetidos.

Os detalhes de um homem que acorda e sente a boca ruin, do homem que tem fome e caça um alimento onde é conhecido, os detalhes que fazem do homem homem, antes de ele dar por isso. Detalhes que atentamos e cogitamos seguir silenciosos pelo silêncio geral. Mas, é aí, caros, onde aponto, nos detalhes, que é mútuo, inda que solitário...

"Falava coisas singelas e importantes, sem olhar a ninguem em especial da gente que lhe rodeava, ou melhor, olhando, com seus olhos incandecentes, através do corro de velhos, mulheres, homens e meninos, algo ou alguém que só ele podia ver. Coisas que se entendiam porque eram obscuramente sabidas desde tempos imemoriais e que alguém aprendia com o leite que mamava."

Mario Vargas Llosa in 'A guerra do fim do mundo'

segunda-feira, 21 de fevereiro de 2011

A derrota - 22 de fevereiro de 2011


Como entender um prejuízo sem silêncio? Nas esferas do entendimento humano, os momentos de humildade são seguidos por silêncio, quase que os bons modos da boa vontade moral. Existe um silêncio que traz o entendimento, que sozinho arma um período de casulo, antes repugnado chega agora como um cheiro que foi nos atraindo até sua origem sem nos darmos conta.

A larva precisa passar para a nova condição: é um sol para o qual não tenha sombra para alívio, ou um vento contra o qual não exista apoio; é um tempo que chega, e para essa espécie nova de vírus não tenha cura possível sequer no imaginário.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

A equação - 01 de fevereiro de 2011


Oferecer valores humanos às máquinas, eis o vácuo ainda inocupável por nós, sociabilizar com o que existe, e não só com um campo de aspecto familiar, estaríamos determinando novas barbáries, e novos continentes a colonizar, estaríamos avançando com a história humana e quebrando novamente com paradigmas do passado, mas isso, não pode ser conquistado além, sem quem suporte, sem quem seja capaz de enxergar; é capaz que já esteja aqui desde sempre, mas que só com um abrir dos olhos que possam ver, estaremos aptos a conviver. Como uma tecnologia que avançando simplifique.

Sávio

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Daquilo que chamamos certo - 07 de dezembro de 2010


"pensei muito quando disse objeto indireto referente ao filme, mas, objeto indireto é aquilo que temos quando não sabemos ao que referimos, veja bem, referir é algo que varia, e dentro da variância extrema a que a língua utilizada submete a estrutura através do significado, a única garantia do que é dito está em algo que não é a língua entre o que diz e os que ouvem. A estrutura encontra autonomia para mudar, isso não é algo escondido pra ninguém, é algo de ser recebida, a língua, para arbítrio, em parte ,regular e em parte original. Assim, é sentimental dizer em objeto direto!, e ser de algum sentimento é a única forma de dar valor, logo, de ter sentido que se diga.

Assim nos desfazemos da estrutura, da pedra e dos manuscritos que se acabam, e passamos adiante, para a compreensão mais próxima da coisa e de suas reais motivações, que nos serão os únicos argumentos da evidência de suas significações com o passar do tempo.

E 'inda que 'arcaicos' e 'errados', estarão no coração da comunicação."
Sávio


"As estátuas de Olímpia, que tanto contribuem para nos ligar à Grécia, alimentam contudo também, no estado em que chegaram até nós - esbranquiçadas, quebradas, isoladas da obra integral -, um mito fraudulento da Grécia, não sabem resisitir ao tempo como um manuscrito, mesmo incompleto, rasgado, quase ilegível. O texto de Heráclito lança-nos clarões como nenhuma estátua em pedaços pode fazer, porque o significado é nele deposto de maneira diferente, é concentrado de forma diferente do que está concentrado nelas, e porque nada iguala a ductilidade da palavra. Enfim, a linguagem diz, e as vozes da pintura são as vozes do silêncio."
Maurice Merleau-Ponty, em 'Signos'

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Segundo olhar sobre a Arte - 15 de novembro de 2010


Pensando no significado do dizer 'arte disso e arte daquilo', pensei: arte seria não uma qualificação de procedimentos quanto a alguma coisa, mas a um modo de vencer um obstáculo usando ao mesmo tempo a sorte, a criatividade e a fé.

"A arte de vencer é a arte de ser ora audacioso, ora prudente" (Napoleão Bonaparte)

sábado, 23 de outubro de 2010

Sociedade do Espetáculo - 23 de outubro de 2010


"A sociedade que repousa sobre a indústria moderna não é fortuitamente ou superficialmente espectacular, ela é fundamentalmente espectaculista. No espectáculo da imagem da economia reinante, o fim não é nada, o desenvolvimento é tudo. O espectáculo não quer chegar a outra coisa senão a si mesmo.
Na forma do indispensável adorno dos objectos hoje produzidos, na forma da exposição geral da racionalidade do sistema, e na forma de sector económico avançado que modela directamente uma multidão crescente de imagens-objectos, o espectáculo é a principal produção da sociedade actual."

Guy Debord, in 'A Sociedade do Espectáculo'


Obs.:dispensei comentário que introduzisse.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dos conflitos outros - 8 de outubro de 2010


Como pôde ser tão evidente e ninguém perceber que o problema não é de partido, sequer de alguma personalidade, mas pessoal... É algo distribuído em casa. Esse nosso desespero... a emergência... os problemas não cessarão em um mês. Na busca de alguma resposta ameaço tudo, eu também, como temente ao que me faz mal. Nenhum argumento que provém do embate está sem esse mal, os conflitos tem várias faces, e escondem que, uma vez em combate, não interessa mais o motivo, mas a vitória. Ninguém aqui vai ceder se em algum momento enxergar que queriam uma mesma coisa ambas as partes. O bom senso não é costume. Esse conflito sequer é pelas propostas. Se alguma mudança real viesse, ela seria muito mais tumultuada, e inclusive, menos vergonhosa.

"Tem-se o poder absoluto de se ser, sem obrigações. As obrigações obrigam porque há muita gente e nós estamos no meio dela. Dentro de nós não há mais ninguém. Só se deixamos a porta aberta e entram sem darmos conta. Dentro não há mais ninguém e então é que sim. Ser-se obrigado a ser-se - Solitária praia sem justificação. Sol nítido outra vez, a nuvem passou. Passa ao longe sobre as águas um voo tremulo de gaivota - ou é uma vela? um voo sacudido de borboleta. Pequena mancha branca, estremece ou estremeceram nela os meus olhos. Estremeço todo eu, quando me descubro, tão forte da reinvenção do mundo em mim, tão frágil da oposição do mundo a mim." Vergílio Ferreira in Nítido Nulo

sábado, 18 de setembro de 2010

Nossos Conflitos - 18 de setembro de 2010


Dos nossos pequenos conflitos, resumimos uma humanidade.

"Em uma guerra não se matam milhares de pessoa. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias."

Cristian Boltonski