terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Daquilo que chamamos certo - 07 de dezembro de 2010


"pensei muito quando disse objeto indireto referente ao filme, mas, objeto indireto é aquilo que temos quando não sabemos ao que referimos, veja bem, referir é algo que varia, e dentro da variância extrema a que a língua utilizada submete a estrutura através do significado, a única garantia do que é dito está em algo que não é a língua entre o que diz e os que ouvem. A estrutura encontra autonomia para mudar, isso não é algo escondido pra ninguém, é algo de ser recebida, a língua, para arbítrio, em parte ,regular e em parte original. Assim, é sentimental dizer em objeto direto!, e ser de algum sentimento é a única forma de dar valor, logo, de ter sentido que se diga.

Assim nos desfazemos da estrutura, da pedra e dos manuscritos que se acabam, e passamos adiante, para a compreensão mais próxima da coisa e de suas reais motivações, que nos serão os únicos argumentos da evidência de suas significações com o passar do tempo.

E 'inda que 'arcaicos' e 'errados', estarão no coração da comunicação."
Sávio


"As estátuas de Olímpia, que tanto contribuem para nos ligar à Grécia, alimentam contudo também, no estado em que chegaram até nós - esbranquiçadas, quebradas, isoladas da obra integral -, um mito fraudulento da Grécia, não sabem resisitir ao tempo como um manuscrito, mesmo incompleto, rasgado, quase ilegível. O texto de Heráclito lança-nos clarões como nenhuma estátua em pedaços pode fazer, porque o significado é nele deposto de maneira diferente, é concentrado de forma diferente do que está concentrado nelas, e porque nada iguala a ductilidade da palavra. Enfim, a linguagem diz, e as vozes da pintura são as vozes do silêncio."
Maurice Merleau-Ponty, em 'Signos'

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Segundo olhar sobre a Arte - 15 de novembro de 2010


Pensando no significado do dizer 'arte disso e arte daquilo', pensei: arte seria não uma qualificação de procedimentos quanto a alguma coisa, mas a um modo de vencer um obstáculo usando ao mesmo tempo a sorte, a criatividade e a fé.

"A arte de vencer é a arte de ser ora audacioso, ora prudente" (Napoleão Bonaparte)

sábado, 23 de outubro de 2010

Sociedade do Espetáculo - 23 de outubro de 2010


"A sociedade que repousa sobre a indústria moderna não é fortuitamente ou superficialmente espectacular, ela é fundamentalmente espectaculista. No espectáculo da imagem da economia reinante, o fim não é nada, o desenvolvimento é tudo. O espectáculo não quer chegar a outra coisa senão a si mesmo.
Na forma do indispensável adorno dos objectos hoje produzidos, na forma da exposição geral da racionalidade do sistema, e na forma de sector económico avançado que modela directamente uma multidão crescente de imagens-objectos, o espectáculo é a principal produção da sociedade actual."

Guy Debord, in 'A Sociedade do Espectáculo'


Obs.:dispensei comentário que introduzisse.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Dos conflitos outros - 8 de outubro de 2010


Como pôde ser tão evidente e ninguém perceber que o problema não é de partido, sequer de alguma personalidade, mas pessoal... É algo distribuído em casa. Esse nosso desespero... a emergência... os problemas não cessarão em um mês. Na busca de alguma resposta ameaço tudo, eu também, como temente ao que me faz mal. Nenhum argumento que provém do embate está sem esse mal, os conflitos tem várias faces, e escondem que, uma vez em combate, não interessa mais o motivo, mas a vitória. Ninguém aqui vai ceder se em algum momento enxergar que queriam uma mesma coisa ambas as partes. O bom senso não é costume. Esse conflito sequer é pelas propostas. Se alguma mudança real viesse, ela seria muito mais tumultuada, e inclusive, menos vergonhosa.

"Tem-se o poder absoluto de se ser, sem obrigações. As obrigações obrigam porque há muita gente e nós estamos no meio dela. Dentro de nós não há mais ninguém. Só se deixamos a porta aberta e entram sem darmos conta. Dentro não há mais ninguém e então é que sim. Ser-se obrigado a ser-se - Solitária praia sem justificação. Sol nítido outra vez, a nuvem passou. Passa ao longe sobre as águas um voo tremulo de gaivota - ou é uma vela? um voo sacudido de borboleta. Pequena mancha branca, estremece ou estremeceram nela os meus olhos. Estremeço todo eu, quando me descubro, tão forte da reinvenção do mundo em mim, tão frágil da oposição do mundo a mim." Vergílio Ferreira in Nítido Nulo

sábado, 18 de setembro de 2010

Nossos Conflitos - 18 de setembro de 2010


Dos nossos pequenos conflitos, resumimos uma humanidade.

"Em uma guerra não se matam milhares de pessoa. Mata-se alguém que adora espaguete, outro que é gay, outro que tem uma namorada. Uma acumulação de pequenas memórias."

Cristian Boltonski

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sobre o preconceito da vida fácil - 9 de setembro de 2010

" Se a poesia não surgir tão naturalmente como as folhas de uma árvore, é melhor que não surja mesmo." John Keats

Essa frase de John Keats mostra um preconceito bem comum no nosso tempo, que talvez se estenda por milênios, onde as pessoas acreditam fielmente que existe um caminho fácil para vencer na vida. Elas acreditam que de alguma forma o trabalho é algo do qual não se precisa gostar pra fazer direito, e de fato vivem a vida toda assim, trabalham simplesmente porque precisam. Vejam bem uma coisa, essa concepção é tão absurda, que convence as pessoas a ficarem sempre insatisfeitas, uma insatisfação gratuita distribuída diariamente nas esperanças de milhões de pessoas ao redor do mundo. E é justamente essa concepção que libera o mercado para aqueles que realmente querem fazer algo de destaque, e gostam do que estão fazendo, e exatamente por isso alcançam a vitória, ainda que ela seja algo individual, porque no fundo, em algumas situações, se perde mas se vence!

Tratando da poesia, John Keats demonstra esse preconceito tirando a qualidade do fazer poético, ele acha que a inspiração é algo divino, que vem num dia e a poesia sai bem feita, algo como o dom, uma escolha que não sai do indivíduo, mas nasce com ele vindo de algum lugar obscuro. Isso tira a esperança das pessoas, isso, como expliquei no parágrafo anterior, libera o 'mercado' para os que estão dispostos à batalha corporal da poesia, onde se vai vencendo as dificuldades, palavra por palavra, até que após meses, anos, ou até décadas, termina um trabalho, construído, e se sai vitorioso. Temos um excelente exemplo pra isso, o grande Fernando Pessoa, que sequer publicou em vida a maior parte de sua obra, quem sabe se ele publicaria como está sendo publicado...

O criar, qualquer que seja, é um ato laborioso, ninguém chega a algum lugar de graça, só na loteria, mas a loteria escolhe tão poucos, que contar com ela é lamentável. E mesmo contando com ela, de forma alguma ela vira fonte de renda (a não ser pra alguns políticos que compram seus resultados no Brasil para limpar o dinheiro da corrupção, e assim ganham várias vezes seguidas, porque o dinheiro é muito, e uma vez só não da pra lavar tudo...).

Para a saúde do caminhar, para a saúde da esperança, para a saúde da humanidade em nós, é necessário deixar de lado essa velha crença no dom, é necessário pegar a vida com as duas mãos, sujá-las nisso, olhar em seus olhos, contagiar-se. E assim, palavra por palavra, com rima ou sem rima, abrindo verdades ou não, concluiremos uma poesia maravilhosa, no que quer que seja. Pense a respeito, me diga se me engano, mas a diversão gratuita pra mim é safadeza! É necessário merecê-la, pra si mesmo, ninguém precisa saber disso, e só com esforço, o coração pode abrir-se profundamente à alegria de simplesmente estar vivo.

segunda-feira, 16 de agosto de 2010

16 de agosto de 2010 - Do movimento estudantil brasileiro

Caros 1 ou 2 leitores, estranha semelhança com o movimento estudantil que vejo em Goiânia, mas penso ser semelhante no resto do Brasil.

Outra piada... (sobre o movimento estudantil brasileiro)

Um revolucionário bolchevista estava falando de cima de um caixote para uma pequena multidão em Times Square, NY. Após descrever as maravilhas do socialismo e do comunismo, ele disse: "- A revolução virá, e todos comerão pêssegos em calda com creme de leite." Um velhinho que estava na parte de trás da multidão gritou: "- Eu não gosto de pêssegos em calda com creme de leite." O bolchevista refletiu por alguns instantes e então respondeu: "- A revolução virá, camarada, e você aprenderá a gostar de pêssegos em calda com creme de leite."
Autor desconhecido, contada por G. Edward Griffin

fonte: http://www.midiasemmascara.org/artigos/eleicoes-2010/11332-eleicoes-no-brasil-uma-piada.html

16 de agosto de 2010 - Da política brasileira

Acho que a citação fala por si...

Uma piada! (sobre a política brasileira)

Navegavam há meses e os marujos não tomavam banho nem trocavam de roupa, nada de novo na Marinha Mercante britânica. O navio fedia! O Capitão chama o Imediato e diz - Mr. Simpson, o navio fede, mande os homens trocarem de roupa! - Responde o Imediato: Aye, Aye, Sir, e parte para reunir os seus homens e diz: - Sailors, o Capitão está se queixando do fedor e manda vocês trocarem de roupa. David troque a camisa com John, John troque a sua com Peter, Peter troque a sua com Alfred, Alfred troque a sua com Jonathan, e assim prosseguiu. Quando todos tinham feito as devidas trocas dirige-se ao Capitão e diz - Sir, todos já trocaram de roupa. O Capitão, visivelmente aliviado manda prosseguir a viagem.

É isto que se repetirá no próximo outubro: a política brasileira fede! E nada vai mudar de verdade, apenas trocarão a roupa uns com os outros. E assim sempre foi, desde a 'redemocratização' que somos chamados - chamados não, obrigados por esta lei idiota do voto obrigatório - a referendar qual dos idênticos entre si vai nos governar.

fonte: http://www.midiasemmascara.org/artigos/eleicoes-2010/11332-eleicoes-no-brasil-uma-piada.html

domingo, 15 de agosto de 2010

15 de agosto de 2010 - Das metáforas



O coração de um ser humano talvez seja a única coisa importante para sua vida, tanto assim é que os caminhos turvam-se tão logo essa parte de nós não encontre sentido no que se faz. O próprio entendimento se baseia nessa peça fundamental, e ele talvez limitando, ou talvez abrindo, promove a luta corporal com a vida, onde cada peça é eterna e instauradora de novas ordens.

Das metáforas - Robert Musil


Pensemos, por exemplo, nos grandes escritores. Podemos orientar a nossa vida por eles, mas não podemos extrair das suas obras o elixir da vida. Eles deram uma forma tão rígida àquilo que os moveu que tudo isso está ali, mesmo nas entrelinhas, como metal laminado. Mas, que disseram eles na verdade? Ninguém sabe. Eles próprios nunca o souberam explicar cabalmente. São como um campo sobre o qual voam as abelhas; e ao mesmo tempo, eles são esse próprio voo. Os seus pensamentos e sentimentos assumem toda a escala da transição entre verdades ou erros que, se necessário, podem ser demonstrados, e seres mutáveis que se aproximam ou afastam de nós quando os queremos observar.
É impossível destacar o pensamento de um livro da página que o encerra. Acena-nos como o rosto de alguém que passa rapidamente por nós, numa fila com outros rostos, e por um instante surge carregado de sentido. Estou outra vez a exagerar um pouco. Mas agora queria perguntar-lhe: que coisa acontece na nossa vida que não seja aquilo que acabo de descrever? Não falo das impressões mais exactas, mensuráveis e definíveis; todos os outros conceitos em que baseamos a nossa vida não passam de metáforas que ficaram cristalizadas. Entre quantas ideias não oscila e paira um conceito tão simples como o da virilidade? E como um sopro que muda de forma a cada respiração, e nada é estável, nenhuma impressão, nenhuma ordem. Se, como eu disse, pomos de lado na literatura aquilo que não nos convém, tudo o que fazemos é reconstituir o estado original da vida.

Robert Musil, in 'O Homem sem Qualidades'

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

12 de agosto de 2010 - Do Poder


Diria que é perigoso o poder; mas se me perguntassem mais eu diria que não o poder, mas as pessoas. No fim é um questionamento lamentoso de poder, amargura do mal que surge com necessidades invisíveis, como as vírgulas para o fôlego, ou como os motivos para as vírgulas, ou ainda como as respostas pra isso, que surgem como abelhas numa colméia.

Essas circunstâncias que deixam a impressão do perigo no poder (nós as percebemos), porque algo em nós grita que nós também compartilhamos do potencial da tirania. Nesse momento, eu apontaria, tentando apontar a paz, para o silêncio.

da separação - Nietzsche

O crescimento da comunidade frutifica no indivíduo um interesse novo que o aparta da sua pena pessoal, da sua aversão à sua própria pessoa. Todos os doentes aspiram instintivamente a organizar-se em rebanhos, o sacerdote ascético adivinha este instinto e alenta-os onde quer que haja rebanhos, o instinto de fraqueza forma-os, a habilidade do sacerdote organiza-os. Não nos enganemos: os fortes aspiram a separar-se e os fracos a unir-se; se os primeiros se reúnem, é para uma acção agressiva comum, que repugna muito à consciência de cada qual; pelo contrário, os últimos unem-se pelo prazer que acham em unir-se; porque isto satisfaz o seu instinto, assim como irrita o instinto dos fortes. Toda a oligarquia envolve o desejo da tirania; treme continuamente por causa do esforço que cada um dos indivíduos tem que fazer para dominar este desejo.

Friedrich Nietzsche, in 'Genealogia da Moral'

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Chove

Uma postagem do blog Entusiasmo que faz muito sentido que esteja nesse, mas que atende muito bem a outra demanda também...

"Chove. Que fiz eu da vida? Fiz o que ela fez de mim... De pensada, mal vivida... Triste de quem é assim!"Fernando Pessoa

Eu diria que esse trecho me alivia... e não há explicação que chegue à isso, apenas isso em si é que dá conta de si. Em divagar dessa busca de si tão mais óbvia em si, eu diria que haver coisas que se bastem também a explicações, é apenas meu desinteresse pro elas. Se tentasse explicar o alívio, apontaria pra frase final onde diz da tristeza dessa forma de ser, onde ele finalmente percebe que a experiência vivida respondia ao seu eu, e não era sempre a mesma. Fantástico foi a fantasia com o óbvio, e não só isso.

terça-feira, 6 de abril de 2010

6 de abril de 2010 - Da coragem


O dia surge com preguiça, e lentamente o sol ocupa o horizonte. A consciência se apressa em tomar espaço e sou ativo novamente. Com cada atitude preenchida de motivos vivos administro meus sonhos com passos imprevisíveis e convictos.

Se invisto energia num avanço rápido abro mão de defesas que podem ser necessárias, garantias... Sou levado ao preparo sempre insuficiente, e por ele chego à ordem de construir uma armadura que contra tudo seja suficiente.

Mas a vida é despreparo, eu escrevo e volto atrás, apagando, e ainda serão rascunhos publicados. Escrevemos rascunhos pra vida, e acessamos eles interminavelmente, reeditando, porque sempre há margem à melhoria. O jardim separado seca, e para saber-se fechado não basta ter as portas fechadas. Estar aberto talvez esteja mais próximo de ser simples e desperto que luxuoso e farto.

Jardim Secreto - Arthur Schintzler


Se protegerdes com demasiada devoção o jardim secreto da tua alma, ele pode facilmente começar a florescer de um modo excessivamente luxuriante, transbordar para além do espaço que lhe estava reservado e tomar mesmo pouco a pouco posse da tua alma de domínios que não estavam destinados a permanecer secretos. E é possível que toda a tua alma acabe por se tornar um jardim bem fechado, e que no meio de todas as suas flores e dos seus perfumes ela sucumba à sua solidão.

Arthur Schnitzler, in 'Relações e Solidão'

segunda-feira, 15 de março de 2010

15 de março de 2010 - da poesia (talvez mais crítica)


Existe quem seja contra a argumentação dos que estudam. Quem escreve mal e é inseguro tem medo dos críticos, não importa a área, porque não saberão se defender. Tem algumas pessoas que acham que o conhecimento é delas, e tem aquelas que admitem o conhecimento num texto de outro, e vai estudá-lo, admirado. A esse segundo caso chamo de 'críticos', ao primeiro 'críticos de araque'. O crítico de araque não sabe, mas ele também critica a posição de crítico, apesar de ser um, e sua ignorância se ambienta exatamente no fato de ignorarem sua própria posição; não são os únicos, mas eles, que lêem a crítica dos outros, e não gostam de assumir que um texto possa falar mal de algo que talvez ele goste (como o deles mesmo faz com outros), sai por aí dizendo bobagens a respeito de uma profissão (generalização: erro que eu mesmo cometo várias vezes e por isso mesmo me sinto a vontade de apontá-lo como erro, e se eu cometer novamente aqui mesmo por favor me apontem!) que enfrenta problemas gigantescos em seu próprio seio no Brasil pela descrença na cultura que é senso comum já, e que este exemplar de gente ajudam a piorar. Pessoas como Roland Barthes que estudam e que dizem coisas maravilhosas em seus estudos, como está na citação seguinte, são afastados das pessoas porque existem esses que não sabem calar-se para o fenômeno, falam para os próprios ouvidos talvez, porque estão desacostumados ao aprendizado vir de fora pra dentro, acham que sabem o suficiente, desobedecendo mais uma vez o velho ditado: 'não se pode acrescentar a um copo que já está cheio'.

Pessoas como Márcio Ezequiel (o twitter dele: http://twitter.com/marcioezequiel , o blog dele onde ele falou besteira: http://marcioezequiel.blogspot.com/) são exemplares dos anti-cultura que infestam o país, e pra completar, quando postei um comentário em seu blog onde acusei-o de blasfêmia descobri que os comentários postos lá tem de passar por sua aprovação e ele se sentiu no direito de negar o comentário que se opôs a ele, um ato de censura claro onde ele quer controlar a opinião das pessoas que frequentarem seu ambiente, não permitindo que vejam opiniões avessas às dele. Assim são os políticos que negam educação ao povo, estão outros que ameaçam mídias caso publiquem notícias que prejudiquem suas imagens, e assim vai... Esse exemplar da escória (essa é a opinião que sustento enquanto ele não responder, e talvez dure pra sempre...) me intrigou, porque eu precisava mesmo de ver um exemplo de burrice pra poder apontar o dedo e dizer que ele é um dos responsáveis pelo atraso do país!

Mudando radicalmente agora, voltando ao assunto que interessa ao blog, a arte literária é do povo, e merece sua atenção, os críticos somos nós todos, e quem escreve, só por escrever, está ousando interferir na história da escrita; se supera, difama, se falha, anuncia outros... Quem é separado neste mundo?(talvez o Márcio Ezequiel) Estamos interligados até porque um prato de comida que se come é um prato de comida a menos para todos! É por isso que o desperdício fere. É um ato de respeito para a condição humana fazer considerações abertas sobre a posição de outras pessoas ou sobre suas obras, quem nega isso nega também melhoras para a humanidade uma vez que acha que nada se acrescenta, e que todos devem viver separados em seus próprios mundos (talvez um resultado do consumismo que insere as pessoas cada vez mais em perspectivas alucinadas de isolamento e ignorância; pra defender essa minha posição aponto um bom filme que trata o caso: SURPLUS). Nós compartilhamos as experiências, e é por isso, e por nada mais, que tudo que é arte tem importância, e é tão fantástico isso que na seguinte citação está uma análise do que compõe a poesia.

Da palavra poética - Roland Barthes


"Cada palavra poética é assim um objeto inesperado, uma caixa de Pandora de onde saem voando todas as virtualidades da linguagem; é portanto produzida e consumida com uma curiosidade particular, uma espécie de gulodisse sagrada. Essa Fome da Palavra, comum a toda a poesia moderna, faz da palavra poética uma palavra terrível e desumana. Institui um discurso cheio de buracos e cheio de luzes, cheio de ausências e de signos supernutritivos sem previsão nem permanência de intenção e por isso mesmo tão oposto à função social da linguagem, que o simples recurso a uma palavra descontínua abre a via de todas as sobrenaturezas."

Roland Barthes in 'O grau zero da escrita' (p.43-44, 2004)

sábado, 6 de fevereiro de 2010

7 de fevereiro de 2010 - da inteligência


Acostumados a enxergar valor antes em algo como esforço responsável que em posições favoráveis, nos esquecemos da estrutura. A habilidade das cabeças boas, como Robert Musil parece ter dito, estarão mais preparadas que qualquer atitude provinda de grande velocidade ou energia.

Da colaboração íntima - Robert Musil


...a solução de uma tarefa intelectual não acontece de modo muito diferente do que quando um cão, levando um bastão na boca, quer passar por uma porta estreita; ele vira a cabeça para a esquerda e a direita, até o bastão entrar, e nós agimos de modo muito parecido, apenas com a diferença de que não tentamos fazer isso de modo inconsciente, mas, pela experiência, já sabemos mais ou menos como proceder. E embora uma cabeça inteligente tenha muito mais habilidade e experiência nos movimentos do que uma cabeça tola, a solução também para ela chega de forma inesperada, acontece de repente, e sentimos com vago espanto que os pensamentos se fizeram por si, em vez de esperarem pelo seu autor. Essa sensação de assombro é o que muita gente chama hoje em dia de intuição, depois de antigamente a chamarem de inspiração, e acreditam dever enxergar nela algo de suprapessoal; mas é apenas algo impessoal, isto é, a afinidade e solidariedade das próprias coisas que se encontram dentro de uma cabeça.

(Robert Musil, in O homem sem qualidades, p.82, 1942)

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

20 de janeiro de 2010 - Do destino


Sartre dissera outrora que somos responsáveis pelo mundo, pela humanidade, que é escolhendo-se que se escolhe os outros. Quem procura conselhos, procura os conselhos que pretende, e não qualquer conselho. Estamos preparados para o que vem, ainda que nos surpreendamos, isso deixa margem para o pensar, do fato de que as idéias não são nunca inesperadas, daí a criatividade recai sobre nós como um esforço repetitivo de escrita e reescrita através do qual se forja algo novo, e almejado. Observe como é simples e bem colocada essa outra forma de tratar o destino...

Do destino causado - Sándor Márai


Não só as coisas acontecem com as pessoas, (...) cada um gera também aquilo que acontece consigo. Gera-o, invoca-o, não deixa de escapar àquilo que tem de acontecer. O homem é assim. Fá-lo, mesmo que saiba e sinta logo, desde o primeiro momento, que tudo o que faz é fatal. O homem e o seu destino seguram-se um ao outro, evocam-se e criam-se mutuamente. Não é verdade que o destino entre cego na nossa vida, não. O destino entra pela porta que nós mesmo abrimos, convidando-o a passar. Não há nenhum ser humano que seja bastante forte e inteligente para desviar com palavras ou com acções o destino fatal que advém, segundo leis irrevogáveis, da sua natureza, do seu carácter.

Sándor Márai, in 'As Velas Ardem Até ao Fim'