segunda-feira, 4 de julho de 2011

Aponto, e sei que entenderão - Mario Vargas Llosa


Caros, ler mentes é como seguir vestígios do passar recente de raposas, sabendo de onde vieram, pra onde foram, do que precisam... Nós os homens possíveis somos ansiosos pela glória e ignoramos pequeninos detalhes do homem batuto, detalhes do homem que somos e que há muito silenciou ante o conforto, que sempre conseguiu se manter inda que nas faltas, não para aliviar, mas para piorar, para nos dar preguiça, e nos contentamos com a injustiça diária, soletrando hinos que nos cantam o orgulho dos submetidos.

Os detalhes de um homem que acorda e sente a boca ruin, do homem que tem fome e caça um alimento onde é conhecido, os detalhes que fazem do homem homem, antes de ele dar por isso. Detalhes que atentamos e cogitamos seguir silenciosos pelo silêncio geral. Mas, é aí, caros, onde aponto, nos detalhes, que é mútuo, inda que solitário...

"Falava coisas singelas e importantes, sem olhar a ninguem em especial da gente que lhe rodeava, ou melhor, olhando, com seus olhos incandecentes, através do corro de velhos, mulheres, homens e meninos, algo ou alguém que só ele podia ver. Coisas que se entendiam porque eram obscuramente sabidas desde tempos imemoriais e que alguém aprendia com o leite que mamava."

Mario Vargas Llosa in 'A guerra do fim do mundo'